Jéssica Balbino
Poços de Caldas, Minas Gerais, Brazil
Jornalista, escritora urbana, humana, sonhadora, nostálgica, lutadora : guerreira ! e mesmo que marginalmente, a sensação de pertencer ao mundo !
CRIA DAS RUA- Que a leitura é importante, isso é fato indiscutível. Mas, gostaria que você falasse sobre a importância dela para quem escreve, ou quer escrever, letras de rap?
Jéssica Balbino-Para mim, leitura não é importante. É fundamental. Para quem escreve ou quer escrever, seja letra de rap, bilhete, livro, carta, e-mail ou um simples recado, a leitura é a principal ferramenta.
É por meio da leitura, seja de livros, revistas, gibis e até bulas de remédio que se aprende a escrever corretamente, sem falar em desenvolver melhor as ideias e tudo mais. Para mim, a leitura transforma as pessoas em seres humanos melhores, dá noções sobre o que acontece à volta e os tira do limbo cultural do qual nossos governantes se esforçam para manter.
Abrir-se para a leitura é livrar-se da ignorância.
CRIA DAS RUA-A literatura marginal virou objeto de estudo de antropólogos e estudantes universitários.Como Você vê esse fato?
Jéssica Balbino -Eu acho ótimo. Até porque morro de vontade de fazer mestrado para estudar mais a fundo este fenômeno que acontece nas periferias. Acho que quando algum estudante se dispõe a conhecer mais esse universo, é a chance que o povo do gueto tem de chegar ás universidades, à academia e mostrar o talento que tem, sabe?! Tenho uma postura muito favorável a isso, entretanto, acho que para escrever sobre, a pessoa deve vivenciar e não ficar apenas na teoria, porque só entende o que é quem vive e sente na alma o toque da literatura feita às margens da sociedade.
CRIA DAS RUAS-Qual livro você acha que toda pessoa deveria ler?
Jéssica Balbino – Puxa ! Que pergunta difícil hein. Eu gostei muito do Rota 66, do Caco Barcellos. Como jornalista, como escritora marginal,como cidadã. Acho um livro redondo. Bem pesquisado, bem feito, fala dos abusos das autoridades, da realidade periférica, da exclusão do povo negro e tudo feito de uma maneira muito simples e entendível.
Por outro lado, acho que todas pessoas também deveriam ler Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. Há 50 anos ela foi a primeira favelada a escrever algo e a contar para o mundo as mazelas do povo pobre. É um livro que dói na alma e nos faz despertar para a realidade. Portanto, não consigo definir apenas um. Mas, acho que as pessoas seriam melhores se lessem estes dois.
CRIA DAS RUAS-O que mudou na sua personalidade,Na sua vida desde o seu inicio dentro do HIP-HOP até hoje?
Jéssica Balbino – Mudou tudo. Costumo dizer que o hip hop salvou a minha vida. Não que eu estivesse à beira da morte, mas me despertou para um outro universo e deu sentido em tudo aquilo que eu não conseguia compreender. Em julho vai completar 10 anos que tive o primeiro contato com a cultura e não parei mais. Acho que o hip hop desperta sonhos e dá coragem para realizar, portanto, muda vidas.
CRIA DAS RUAS-O que você pensam sobre o sistema de Ações Afirmativas (cotas) nas universidades?
Jéssica Balbino - Olha. Não posso dizer que não é uma ação preconceituosa, entretanto, acho que o momento é esse. Se é através dele que os negros vão ter mais acesso à universidade, então sou favorável. Apoio tudo aquilo que dá a chance do povo estudar. Seja por meio de cotas, de programas assistenciais, enfim, penso que as pessoas podem ter uma chance única através disso, portanto, é o momento.
CRIA DAS RUAS-Você participa de algum projeto social e cultural?
Jéssica Balbino – Sim. Eu toco um projeto chamado Cultura Marginal, que são oficinas de literatura e conhecimento de hip hop dentro de escolas públicas para crianças e jovens carentes e em situação de risco e faço parte do Passa Livros, que arrecada exemplares usados e em bom estado e distribui entre as pessoas de baixa renda, como forma de fazer o saber circular e incentivar a leitura.
Além disso, ajudo a desenvolver eventos nas quebradas da cidade, sempre ligados com hip hop.
CRIA DAS RUAS-Recentemente tivemos uma tragédia muito marcante e lastimavél dentro do cenario do Rap nacional que foi a morte da nossa grande Dina-Di. Você foi umas das pessoais que mas-se manifestou Diante esse ocorrido ! Nos fale um pouco sobre sua amizade com a mesma?
Jéssica Balbino – Quando eu conheci o hip hop, no ano 2000, conheci também o som da Dina Di através do Visão de Rua e a identificação foi imediata. Era raro uma mulher cantando rap, ainda mais com tanta atitude, como ela. Fiquei encantada pelo estilo das rimas, dela, o jeito, a postura e passei a acompanhar a carreira.
A música “Marcas da Adolescência” sempre mexeu demais comigo e com as garotas que na época também acompanhavam a cena.
Em 2006, quando resolvi escrever meu livro-reportagem para obtenção do título de bacharel em jornalismo, trombei com a Dina Di, por acaso, na galeria do rap na 24 de maio e ela me deu uma entrevista. Foi nosso primeiro contato. Passamos a tarde juntas e ela me contou muito da vida dela. Se tornou um sub-capítulo do livro, quando falo das mulheres no hip hop.
Trocamos contatos e mantivemos, até uma semana antes dela morrer, uma ligação via internet, por e-mail, MSN, enfim.
Fiquei muito triste com a partida precoce de uma guerreira que carregou a bandeira do rap no peito o tempo todo, que sempre sofreu na vida e que quando seria feliz, o “the end” apareceu antes na tela da vida.
Me manifestei porque acho uma covardia o que ela passou na clínica onde adquiriu a infecção hospitalar e nos hospitais por onde passou. Acho um absurdo a negligência dos seres humanos terem custado uma vida humano.
Sempre a considerei a Rainha do Rap e no que depender de mim, vou fazer de tudo para mantê-la viva através das músicas, do trabalho que ela desenvolveu e da postura que ela me ensinou.
CRIA DAS RUAS-todo seguimentos existe seus preconceitos o rap por sua vez não é diferente . Você ainda enfrenta preconceito por ser mulher e fazer parte de um movimento que a maior camada é formada pelo sexo masculino?
Jéssica Balbino – O preconceito contras as mulheres está incutido na sociedade desde os tempos primórdios e apesar de tudo, hoje isso ainda persiste.
As coisas mudaram um pouco no hip hop depois da Dina Di e tem mudado lentamente com muita postura e atitude feminina, dos núcleos como o Hip Hop Mulher, enfim. É um processo moroso, mas estamos aí na luta.
Não é fácil quebrar barreiras e preconceitos, mas eu estou nisso porque gosto, porque sou apaixonada por hip hop e literatura e enfrento o que for preciso. Não é um bando de machões que vai me por medo. (rsrs)
CRIA DAS RUAS -Você tem medo do rumo que o rap nacional possa tomar no futuro? e Qual sua Visão sobre esse assunto ?
Jéssica Balbino - É uma discussão ampla, né? Por isso acho fundamental a existência o 5º elemento – conhecimento, para que as pessoas entendam o que é hip hop, porque ele surgiu e como e daí o que é o rap e qual a função social que ele desempenha.
Muitos acham que hip hop se limita a um tipo de música e aí está o grande erro, portanto, sou uma lutadora nesse sentido, justamente para mudar os rumos que vem sendo seguidos: letras pobres e depreciativas.
Acho que as pessoas precisam se mobilizar mais em relação a isso e manter o verdadeiro rap vivo. É preciso menos preguiça para conhecer a cultura por completo.
CRIA DAS RUAS-Como vê o Rap e o Hip Hop no momento atual ?
Jéssica Balbino – Vejo como num momento de transformação. Acho que o conhecimento, aos poucos, está chegando para alguns multiplicadores e se eles se esforçarem, vão conseguir lançá-lo nas grandes camadas e aí mudar o cenário do hip hop no país.
Acho que o crescimento da literatura marginal tem contribuído bastante com discussões sobre o tema e de repente isso pode significar mudanças positivas.
Igual eu já mencionei, é preciso menos preguiça para conhecer a fundo a cultura e aí sim, praticar o rap, fazer letras e cantar.
CRIA DAS RUAS-O que te deixa feliz e o que te deixa realmente chateada ?
Jessica Balbino – A consciência, o crescimento da cena, ver os irmãos escrevendo letras conscientes, participando de eventos, lendo, conhecendo a cultura. Tudo isso me deixa feliz. Saber que o número de saraus tem aumentado, que os escritores estão se multiplicando, que uma letra da hora de rap foi feita, estas são coisas que me fazem acreditar no hip hop. Ver eventos beneficentes, ver a quebrada envolvida nas ações, etc.
O que me deixa triste é ver letras de rap depreciativas, falando mal da mulher, dos manos, exaltando o preconceito. Ver Zé povinho paga pau que diz que é e nem sabe o que significa. Odeio povo atrasa lado no hip hop.
CRIAS DAS RUAS-fale do hip hop ai de poços de caudas quais grupos de rap se destacam?
Jéssica Balbino – Como um todo, o hip hop aqui está engatinhando. Ainda faltam graffiteiros, disseminação dos DJs e mais união.
A cena dos B.boys, principalmente com a Original Crew tem se destacado nacionalmente, assim como o grupo Concepção Urbana, que tem se apresentado inclusive noutros países. Isso é hip hop puro.
Já no rap, muitos grupos estão surgindo, mas os da antiga são os que prevalecem e fazem, a cada dia um trabalho melhor, como o UClanos, que no último ano venceu o programa Astros do SBT, levando o rap para todo país, além de terem ganho o festival RPB em Belo Horizonte e se apresentado no palco principal do Hutúz 10 anos, abrindo o show do MV Bill e dos Racionais MCs.
O cantor Leopac também tem se destacado bastante na cena mineira, fazendo inclusive parte de uma coletânea de rap de todo estado.
CRIA DAS RUAS-um livro?
uma musica?
um filme?
Uma frase?
um escritor(a)?
Jéssica Balbino – Não sei ser específica...mas vamos tentar.
Um livro: Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus
Uma música: Marcas da Adolescência da Dina Di
Um Filme: Preciosa
Uma frase: Um sorriso no rosto e os punhos cerrados por que a luta não para (Sérgio Vaz)
Um escritor: Todos da literatura marginal/periférica. Em especial: Sérgio Vaz, Sacolinha, Alessandro Buzo e Ferréz.
CRIA DAS RUAS-Deixe seu salve o espaço do cria das ruas é td seu.......
Quero agradecer o Cria das Ruas pela entrevista, pela amizade, pelo trampo que vocês estão fazendo na quebrada, pela boa vontade e pela humildade. É assim que se faz a (r ) evolução ! É nóis que tá ! tudo nosso....
Beijão, com paz !
segue abaixo o link do livro pra rapa conhecer ai frmza...
http://www.overmundo.com.br/banco/hip-hop-a-cultura-marginal
http://jessicabalbino.blogspot.com/
salve jéssica balbino e todos da correria de MG
um salve pro mano leo salvador-bahia
do blog onde a favela chegou ( http://httpwwwfamilia-stncombr.blogspot.com/ )
que chegou trincando com as perguntas,
o principal articulador desse bate papo...
salve a todos ....
vato...
Então ...
ResponderExcluirSalve Moysés, salve Léo!!!
Boa entrevista com essa que uma militante do Hip Hip através das palavras, sempre que posso, leio os textos dela, tanto no blog "Cultura Marginal", quanto no Portal Central Hip Hop(Bocada Forte).
Ela que é realmente uma referência aos blogueiros de Hip Hop no Brasil.
Parabéns novamente aos entrevistadores e a entrevistadas.
Paz à todos!!!
Paulo Brazil/STN!!!
Garoto Problema!!!
Exelente matéria !!!
ResponderExcluirTive o imenso prazer de conhecer a Jéssica Balbino pessoalmente !!!!
Uma verdadeira Guerreira !!!
Muiiita PAZ pá todos !!!!
PDC TAMO SEMPRE TRAFICANDU
ResponderExcluirIDEIAS ....