24 de setembro de 2010

Quero que saibas uma coisa.

  Tu sabes como é:

se olho a lua de cristal, os galhos vermelhos do outono em minha janela,

se toco junto ao fogo as impalpáveis cinzas

no corpo retorcido da lenha,

tudo me leva a ti,

como se tudo o que existe:

aromas, luz, metais,

fossem pequenos barcos que navegam em direção às ilhas tuas que esperam por mim.



Agora, bem,

se pouco a pouco tu deixares de me querer

pararei de te querer

pouco a pouco.



Se de repente me esqueceres

não me procure,

pois já terei te esquecido.



Se consideras violento e louco o vento das bandeiras que passa por minha vida

e decidires me deixar às margens do coração no qual tenho raízes,

lembra-te

que nesta dia,

a esta hora

levantarei os braços e minhas raízes partirão em busca de outra terra.



Mas

se em cada dia,

cada hora,

sentires que a mim estás destinado com implacável doçura,

se em cada dia levantares uma flor em teus lábios para me buscares,

oh meu amor, oh minha vida,

em mim todo esse fogo se reacenderá,

em mim nada se apaga ou se esquece,

meu amor se nutre do seu, amado,

e enquanto viveres

estará em teus braços

sem deixar os meus.



Pablo Neruda

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