5 de março de 2011

O tempo da amante


Catarina mulher formosa, era olhada por todos. Independente dos interesses, homens e mulheres a cobiçavam. Os pés pequenos e delicados de uma criança carregavam o corpo saliente de uma serpente envolvente, e perigosa. Olhos latentes, boca delicada, cintura fina, e o emaranhado dos cabelos tiravam do caminho até os homens mais convictos.


Catarina não era mulher de um homem só, liberta, entregava-se a quem aparecesse desde que este lhe despertasse desejos e tivesse algo distinto dos demais - com quem já se deitará.


Mas a mulher formosa tinha uma sina - algo que independia do querer, pensar e controlar. Não só entregava o corpo, mas o coração também, a cada leviano que por sua vida passava.


Doava-se a todos e não se doava a ninguém, amava a todos e não amava a ninguém.


Mulher intensa sofria as dores de um câncer, quando seus amantes de poucos momentos a deixavam.


Passava dois dias equivalentes há dois anos amargurando o abandono e a solidão, fazendo da melancolia sua fiel companheira.


Nua, vagava pela casa como uma alma perdida confundindo os cômodos, os olhos partidos não guiavam seu corpo sem vida. Bebia suas amargas lágrimas e alimentava-se das lembranças, do cheiro que ainda permanecia no travesseiro...


Juntos eram irracionais, dois corações insensatos que cediam a tudo que o corpo pedia.


Lembrava-se de tudo nos mínimos detalhes, lembrava até perder a memória. Até a tristeza cansar-lhe e fazê-la adormecer.


Depois do temporal Catarina voltava mais radiante, sua beleza e juventude tinham mais viço - estará renovada para o próximo furação. Que fugazmente seria digno de seu corpo, seu coração e sua dor.


Angelina Miranda



PS: blog cria das ruas um espaço destinado aos amigos.

Um comentário:

  1. Belíssimo!
    E a gente vai vendo como acontecem as histórias,
    táo humanas, de busca desenfreada pelo prazer,
    como acabamos misturando as energias com os
    gostosos passantes, pelo simples fatos de
    náo se ter consciëncia da energia.
    \
    Pobre Maria. Ou melhor, Catarina.
    Tem tanto segui-dor essa menina...

    Tantos, mas tantos, que a fila das dores
    corre, infinita, até que se exaura sua última
    gota de prazer.
    E ela se dissipe como aquele que foi um
    belo caule de cana a céu aberto.

    Catarina! Ficas táo bela nas letras do poeta.
    Ficas sublime.
    Mas eu posso adivinhar o teu por vir.
    Acorda, Catarina.

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