30 de janeiro de 2011

Luzes no Abismo


Tudo que é óbvio enruga minha pele

Irrita minha índole
As várias variáveis do mesmo
Contaminam-me as veias
Causam febre e tremores.


Eu vi sedas e granadas nas estradas

Arranquei os cravos do não-pecador
Quebrei os vitrais da grande queda
E com os cacos rasguei meus pulsos.




Quis eu a morte digna

A vida intensificada.
Disse-me meu coração:
Encerra os livros
Esqueça as escrituras
E ponha-se no caminho!
Foi lá que aprendi a sangrar e gozar
Com insuperável intensidade.
Singrei tantos mares selvagens
Tantos continentes imaginários
Que me tornei borboleta
Morcego e fera.




Com mandíbulas de prata

Corroí as vertigens da lei
Com o fogo da língua
Submeti as serpentes encantadas.
Os néons não mais me seduzem:
São apenas gases nobres em tubos pré-fabricados
por mão-de-obra miserável!




Tudo que é vazio me atrai:

É terreno livre
Planície deserta
que espera ser preenchida.
E eu tenho sementes, minhas mesmas,
germinadas com chuvas interiores!

Sei amar minha solidão

Não temer meus ossos expostos,
Aprendi a costurar meu próprio joelho
Quando me arrebento nestes abismos de ecos profundos...



Cernov

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